Quando tinha 6 anos,

 Acreditava que o que viviamos era uma picaretagem. Na verdade, não tinha certeza de nada, mas pelo menos sabia que estava viva, que pensava, sentia dor, fome ou alegria. Eu lembro que um dia tirei as almofadas do sofá na sala para fazer o que a principio seria uma casinha, e como elas eram verdes musgo ,preenchidas por grafismos em formas de folhas, achava que estava numa selva, e que se elas forem colocadas bem empilhadinhas formaria não uma casinha qualquer mas a minha toca, o meu abrigo, refúgio do monstro adulto.
 Nessa mesma hora acompanhava meus amigos aventureiros a seguir viagem rumo a selva! Meus amigos eram Os trapalhaões, que absurdo isso! Ainda hoje posso ouvir o solo da guitarra da abertura do programa tilintando na minha cabeça. Então a minha mãe passa pela sala, e ameaça e finalmente grita: 
-Ô minina que bagunça essa?!
O pior vem ai,porque ela ousa em destruir minha grande obra arquitetônica numa vassourada só. Golpe baixo! Então uma epifania baixou na mesma hora! Pow, Splash, Puf e Alacazam...
Indaguei-me:
- Como posso garantir que todos estão vivos, se só eu sei que eu mesma estou viva, será tudo isso uma farsa? 
- Eu quero acordar disso. minha mãe que se diz mãe não devia destruir minha caverna!
-Eu quero ir com eles, explorar a selva!!
-Mas como saberei a verdade? Como?
 Acho que não são vivos, são coisas programadas para me cercar. Afinal, eu não podia conferir quem era vivo ou não, até hoje não posso... Eu queria mesmo era acordar, saber a verdade, tinha que destruir todas as pessoas do mundo, mas como? Meus progenitores que se entitulam como tal, seram os primeiros... Serial killer infantil. Nossa isso não vai ser muito bom no meu histórico escolar! Fiquei mais calma quando fui brincar com o trinco rosqueado da porta, girava e voltava.
 Então quando fiz 17 anos escrevi uma musica e tentei encontrar uma partitura para aquela epifania, e até hoje nunca terminei.

Sonhe

"Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir.

Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida

e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades

para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E

esperança suficiente para fazê-la feliz."

Clarice Lispector